Pular para o conteúdo principal

Sim, nós evoluímos, mas não melhoramos!

Acompanhando o cenário político atual, com as denúncias de corrupção, Operação Lava Jato, delações premiadas, impeachment e tudo o mais, fiquei pensando no quanto evoluímos e o quanto ainda temos que evoluir e cheguei a conclusão de que avançamos em muitas questões, mas apenas em questões periféricas, ou marginais, mas não melhoramos em nada os principais problemas que afligem o Brasil.

Quando olho para a área da Educação, por exemplo, vejo que os professores estão ganhando melhor, embora não o necessário, a sua qualificação melhorou, a infraestrutura das escolas, embora longe do ideal, é muito melhor do que quando eu estudava, por exemplo. Além disso, há transporte escolar e merenda para uma quantidade muito maior de alunos e também com mais qualidade.
Porém, o Ensino Público ainda está anos-luz de distância do Privado, ainda que o próprio Ensino Privado não seja lá essas coisas. Nós ainda formamos um monte de analfabetos funcionais. Dos cursos superiores, embora tenhamos formados mais graduados do que nunca, uma parte significativa destes não faz jus ao diploma que tem.

Na Saúde, embora tenhamos reduzido as taxas de mortalidade infantil e desnutrição, embora tenhamos uma maior expectativa de vida e nossos vovôs e vovós possam desfrutar de uma vida com melhor qualidade, ainda morremos nas filas do SUS, nossos hospitais são sucateados, superlotados e insuficientes. Nossas farmácias estão sempre deficitárias de medicamentos, por mais básicos que sejam. Não temos médicos suficientes, nem mesmo com a importação feita de Cuba e da Argentina. Sofremos cada vez mais com epidemias que outrora extintas, tem voltado com cada vez mais força e, como se não bastasse, um mísero mosquito erradicado a algumas décadas, nos derrota dia-a-dia, não com uma, mas com três (e quem sabe quantas mais) doenças.

A Economia, o que dizer nela? Falar dessa área é difícil. Não a vejo como algo em evolução, mas em ciclos: ora em crescimento, ora em declínio. O que o Estado tem que fazer é garantir meios de se resguardar dos piores efeitos nos momentos de crise. Esta é uma lição que está, inclusive na Bíblia: faça uma poupança nos anos das vacas gordas pra não morrer nos anos de vacas magras.

Temos melhorado muito, é óbvio, mas em alguns pontos: a inflação, queira o não foi controlada (é claro que ela pode sair do controle ainda). Também ouve um aumento na renda média do brasileiro, menos pessoas estão nas linhas da miséria e da pobreza, o mercado consumidor ampliou-se, o interno e o externo, formamos boas reservas nacionais. Nos industrializamos.

Mas ainda somos altamente vulneráveis à crises externas, ainda dependemos muito de commodities, da cotação do dólar, dos ânimos do mercado de ações. Qualquer boato desencadeia turbulência na Economia. Problemas políticos afetam mais do que deveriam. O Estado ainda está altamente endividado. Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo, mas com um retorno infinitamente inferior.

Também a infraestrutura, não só a de produção - transportes, energia, comunicação - mas também a de bem estar, voltadas ao cidadão, este setor também evoluiu: temos mais e melhores espaços públicos. Temos mais estradas. Voamos mais. A energia elétrica e o saneamento chegam a mais lugares e pessoas. Temos internet e telefones para todos, coisas que não tínhamos a algumas décadas atrás.

Mas nossas estradas ainda são de péssima qualidade, o transporte de cargas e de passageiros é caro. O transporte aéreo não é nada pontual. Pagamos por internet e telefone como no primeiro mundo, mas a qualidade do serviço é ruim, quando não péssima. Todo ano corremos o risco de apagões elétricos, mesmo pagando "bandeiras".

Quanto à Segurança Pública, embora tenhamos um melhor treinamento das forças de segurança, elas estejam melhores equipadas, ganhando melhor, mas não tão bem quanto deveriam, e eventualmente, aumentado os efetivos, ainda temos problemas: não se pode mais sair de casa tranquilo nem em cidades pequenas; o crime organizado se alastrou das grandes e médias cidades, para as menores; a droga corre solta em todos os cantos. A sensação de insegurança é cada vez maior, embora estejamos cada vez mais enjaulados dentro de nossas casas e de nossos carros.

Na Assistência Social (não Assistencialismo), aumentamos a abrangência de programas sociais, aperfeiçoamos inclusive eles. Mas o Norte e Nordeste continuam pobres, os bolsões de pobreza continuam cercando nossas cidades, um grande número de pessoas continua fraudando o sistema e ainda não somos capazes de fazer com que o assistido consiga deixar de precisar da assistência.

Quando olho para os livros de história e para a minha própria vida, vejo que, sem sombra de dúvida evoluímos, melhoramos muito, mas em pontos específicos. Os velhos, crônicos e fundamentais problemas continuam aí, permanecem ao longo das décadas. Não é questão deste ou daquele governo, mas sim algo que transcende os governos, é algo além deles.

Por melhores ou piores que tenham sido nossos governantes, independente se do PT, do PSDB, da Arena ou do MDB, militares ou civis, de esquerda, centro ou direita, nenhum deles conseguiu até agora (e temo que nunca conseguirão) atacar os problemas fundamentais de nosso País e de nossa sociedade.

Por fim, não defendo este ou aquele Governo, este ou aquele Partido, nem este ou aquele Político: se cometeu ingerência, impeachment nele (ou nela), se cometeu crime, cadeia! Mas não vejo que estas sejam também soluções. É apenas circo.

Comentários

Mais visitados

Despesa sem empenho prévio e despesa sem autorização orçamentária: um breve ensaio.

Não é incomum o surgimento na mesa de nós, contadores públicos, especialmente municipais, pedidos de empenho já acompanhados das notas fiscais e com ateste do recebimento dos materiais e serviços. Nesse tipo de situação e em outras similares pode eventualmente surgir a dúvida se a despesa realizada se enquadra como sem empenho prévio ou se é uma despesa sem autorização orçamentária.

Planilha para estimativa mensal de arrecadação

Quem trabalha com a elaboração do orçamento e a sua avaliação sabe que são necessárias estimativas mensais de arrecadação para a definição e avaliação da programação financeira. Eu costumo fazer a previsão da receita orçamentária de forma manual, já que isso me dá total controle do cálculo e não me faz esperar por ajustes de sistema quando algo está errado. Alguns sistemas informatizados tem funcionalidades mais elaboradas para o rateio mensal da previsão da receita, enquanto que outros trabalham simplesmente com um valor médio mensal. Grande parte das receitas tem uma característica de sazonalidade na distribuição mensal da arrecadação, inclusive as receitas mais relevantes no âmbito municipal, tais como o FPM e o ICMS. Pensando nisso (e atendendo a uma necessidade minha), desenvolvi uma planilha no Excel para distribuição mensal da previsão da receita, de forma automática de acordo com a sazonalidade média. Na planilha existem várias guias,c ada uma com uma função, porém três

Planilha para avaliação orçamentária e financeira

A avaliação da programação financeira, além de ser exigência legal, deve ser feita periodicamente por se tratar de importante ferramenta de gestão e controle das contas públicas. No meu dia-a-dia como contador público municipal eu utilizo diversas ferramentas para facilitar o meu trabalho e esta planilha para avaliação orçamentária e financeira é mais uma delas que eu disponibilizo para os demais colegas e interessados. A utilização é simples, baseada nas fontes de recursos. O preenchimento se dá nas seguintes colunas: Código e Fonte: o código e descrição de cada fonte de recurso; Saldo financeiro: Saldo financeiro bruto de cada fonte de recurso, existente na data-base da avaliação. A data-base, é o último período encerrado, seja bimestral, trimestral, quadrimestral, mensal, etc; A arrecadar: meta de arrecadação para os períodos subsequentes ao da data-base; A empenhar: saldo das dotações na data-base; Limitado: se houve limitação de empenho, qual o valor limitado até a d